Nossa Senhora do Rosário


7 de Outubro - Nossa Senhora do Rosário

Outubro: Mês do Rosário

O Terço, o Santo Rosário e a Ave-Maria

São Luís Maria Grignion de Montfort (1673 –1716), grande apóstolo de Maria Santíssima, escreveu:

“A Santíssima Virgem revelou ao Bem-aventurado Alain de la Roche que, depois do Santo Sacrifício da Missa, que é o primeiro e mais vivo memorial da Paixão de Jesus Cristo, não havia devoção mais excelente e meritória que o Rosário, que é como que um segundo memorial e representação da vida e da Paixão de Jesus Cristo”.
Assim sendo, depois da Santa Missa o Santo Rosário é a mais poderosa arma de eficácia comprovada contra Satanás e seus sequazes, que procuram perder as almas. É um meio de salvação dos mais poderosos e eficazes que nos foi oferecido pela Divina Providência.
De acordo com  Bogaz ( 2003):
“O rosário é um itinerário de fé e oração, onde nos colocamos sob o manto de Maria e somos abraçados por seu amor.”

A origem do terço é muito antiga. Remonta aos anacoretas orientais (monges cristãos eremitas) que usavam pedrinhas para contar suas orações vocais. Em 1328, segundo a tradição, Nossa Senhora apareceu a São Domingos, recomendando-lhe a reza do Rosário para a salvação do mundo. Nasceu assim a devoção do Rosário, que significa coroa de rosas oferecidas a Nossa Senhora. O terço é uma das mais queridas devoções a Nossa Senhora que, aparecida em Fátima, ela pediu aos pastorzinhos: "Meus filhos, rezem o terço todos os dias.”

O Terço consiste em 50 ave-marias intercaladas por 5 padre-nossos assim mantidos desde o pontificado do Papa São Pio V (1566-1572), que deu a forma definitiva ao terço que conhecemos hoje. Cada Rosário é composto de três terços (150 ave-marias). Os três mistérios ou terços são divididos em cinco meditações:

1 - Mistérios gozosos:

I - Anunciação do anjo e a Encarnação do Verbo,

II - Visitação de Maria Santíssima a Santa Isabel,

III - Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo,

IV - Apresentação de Jesus e a purificação de Maria,

V - A perda e o encontro do Menino Jesus;


2 - Mistérios dolorosos:

I - Agonia de Jesus no Horto das Oliveiras,

II – Flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo,

III – Coroação de espinhos de Nosso Senhor,

IV – Carregamento da Cruz ao alto do Calvário,

V – A crucifixão e morte de Jesus;

 

3 - Mistérios gloriosos:

I - Ressurreição de Jesus Cristo,

II - Ascensão de Jesus aos céus,

III – Descida do Espírito Santo,

IV - Assunção de Maria Santíssima,

V – Gloriosa coroação de Maria.


Ressalta-se, porém, que no ano de 2002, o Papa João Paulo II assinou a carta apostólica Rosarium Virginis Mariae acrescentando, ao Rosário, como facultativo, um quarto terço ou Mistério da Luz, inspirado na vida pública de Jesus.

Dessa forma, observamos que no terço a oração central é Jesus Cristo e Maria Santíssima. Meditamos todo o Novo testamento – evangelhos - que nos coloca diante da Santíssima Trindade, da Encarnação do Verbo, de Sua Paixão, Morte e Ressurreição por mediação de Maria. Podemos observar que o terço é também uma oração inspirada na Bíblia.

O rosário é a recitação de três terços. A história do Santo Rosário se confunde com a própria história da oração da Ave-Maria, e com a própria devoção à Mãe de Deus. Teve seu início nas liturgias dos primeiros séculos do cristianismo, ganhando força a partir da piedade do povo. Sabe-se que a recitação da Ave-Maria, oração inicialmente formada apenas pela saudação do anjo Gabriel (Lc 1,28) e pelo louvor de Isabel a Maria (Lc 1,42), teve sua prática iniciada na liturgia da Igreja por volta do século VI, e somente ganhou a forma como a rezamos ainda hoje no século XVI. Foram mil anos de recitação e fé, até ser fixada oficialmente em 1568, pelo Papa São Pio V, no Breviário Romano, e assim se mantém viva entre nós: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, e bendito o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.

A primeira parte da Ave-Maria, no início, era recitada como jaculatória, e foi muito propagada na Idade Média, até que a Igreja, aproximadamente a partir de 1100, começou a prescrevê-la como oração litúrgica, com a mesma obrigação do Pai-Nosso e de outras orações. O acréscimo do nome e Jesus ao louvor de Isabel deve-se ao Papa Urbano IV (1261-1264). Já a segunda parte da oração, que é uma invocação da Igreja, conheceu várias fórmulas a partir do século XIII, inicialmente de forma mais simplificada, sendo recitada apenas “Santa Maria, rogai por nós”, fórmula que sofreu acréscimos e modificações nos séculos seguintes, até a fixação atual, feita pelo Papa São Pio V. Não se pode esquecer que a oração da Ave-Maria se formou juntamente com outras práticas orantes, como a recitação dos Salmos e do próprio Pai-Nosso, nos ensinado por Jesus.

A história registra que o Rosário de Ave-Marias deriva do Rosário de Pai-Nossos. Este teria sido introduzido por São Bento, porque havia monges pouco letrados que apresentavam dificuldade para recitar os 150 salmos em latim, o saltério. Assim, eram autorizados a recitar 150 Pai-Nossos em substituição aos salmos. Para facilitar a contagem, os monges utilizavam um cordão, com 150 grãos nele inseridos, cuja prática tornou-se comum nos séculos X e XI. O Rosário de Ave-Marias começou a surgir por volta de 1150, logo se popularizando, especialmente com os frades dominicanos. A história registra que no século XV o frade dominicano Alano de la Roche não apenas teria sugerido a recitação do Rosário de Ave-Marias, como teria criado por toda parte as Confrarias do Santíssimo Rosário (ou Irmandades do Rosário), pelas quais a oração era largamente difundida. A forma atual do Rosário foi fixada por um papa dominicano, São Pio V, que determinou o número de Pai-Nossos e Ave-Marias, na Carta Apostólica Consueverunt Romani Pontífices.

A devoção de São Pio V ao Santo Rosário, segundo registram os historiadores da Igreja, dentre os quais Dom Estevão Tavares Bittencourt (Católicos perguntam. ed. Lumen Christi), deve-se à vitória dos cristãos sobre a frota otomana, ocorrida a 7 de outubro de 1571, denominada de Batalha de Lepanto. Naquela época, os turcos haviam atingido o apogeu de seu poder, e pretendiam dominar a França e a Itália, apoderando-se de Roma. Havia o risco de os cristãos assistirem a Basílica de São Pedro ser transformada em uma mesquita islâmica. Os cristãos se encontravam enfraquecidos, razão pela qual o Papa Pio V atribuiu a vitória cristã à devoção a Nossa Senhora e à recitação do Santo Rosário. Para celebrar a vitória, instituiu o Papa, no calendário litúrgico da Ordem de São Domingos, a Festa de Nossa Senhora do Rosário, que foi estendida a toda a Igreja pelo Papa Clemente XI em 1716, ano em que faleceu São Luís Maria Grignion de Montfort, um dos mais fervorosos padres da época, aos 43 anos de idade e apenas 16 de sacerdócio, no dia 28 de abril.

Segundo Eliane Portalone Crescenti (Rosário: caminho da paz, São Paulo : Editora Santuário), foi São Luís Maria Grignion de Montfort quem compôs a meditação dos mistérios, no ano de 1700 (ano em que se tornou sacerdote, a 5 de junho), tendo sido aprovada na Constituição Pretiosus, em 1727, pelo Papa Bento XIII, tornando obrigatória a contemplação dos mistérios na recitação do Rosário.

A São Luís Maria Grignion de Montfort atribuem-se grandes feitos, dentre os quais a prática da perfeita Consagração a Cristo pelas mãos de Maria como meio eficaz para viver fielmente a aliança do batismo e a prática do Santo Rosário. A devoção ao Santo Rosário teve grande estímulo a partir de então. Na Carta Encíclica Egregiis, de 3 de dezembro de 1856, o Papa Pio IX reconhecia o grande valor do Rosário, colocando “a reza cotidiana do Rosário” como poderosa arma para destruir “os monstruosos erros e impiedades que por todas as partes se levantam”.

Um dos mais destacados divulgadores do Rosário é sem dúvida o Papa Leão XIII, o “Papa do Rosário”, que dedicou à oração mais de 20 documentos, sendo 11 encíclicas. Uma das mais importantes, sem dúvida, é Supremi Apostolatus, publicada em 1º de setembro de 1883, seguida de Jucunda Semper, de 8 de setembro de 1894, de onde se extrai o seguinte texto:

Queira Deus — é este um ardente desejo nosso — que esta prática de piedade retome em toda parte o seu antigo lugar de honra! Nas cidades e aldeias, nas famílias e nos locais de trabalho, entre as elites e os humildes, seja o Rosário amado e venerado como insigne distintivo da profissão cristã e o auxílio mais eficaz para nos propiciar a divina clemência”.

A partir de Leão XIII se seguiram Pio X, Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII e Paulo VI, os quais deram grande estímulo ao Rosário.
Bento XV, na Encíclica Fausto Appetente de 29 de junho de 1921, prescreve a oração do Rosário afirmando:

“A Igreja, sobretudo por meio do Rosário, sempre encontrou em Maria, a Mãe da graça e a Mãe da misericórdia, precisamente conforme tem o costume de saudá-la. Por isso, os Romanos Pontífices jamais deixaram passar ocasião alguma, até o presente, de exaltar com os maiores louvores o Rosário mariano, e de enriquecê-lo com indulgências apostólicas”.

Pio XI, na Encíclica Ingravescentibus Malis, de 29 de setembro de 1937, assim se refere ao Rosário:

“Uma arma poderosíssima para por em fuga os demônios (...). Ademais, o Rosário de Maria é de grande valor não só para derrotar os que odeiam a Deus e os inimigos da Religião, como também estimula, alimenta e atrai para as nossas almas as virtudes evangélicas”.

Pio XII, na Encíclica Ingruentium Malorum, de 15 de setembro de 1951, afirma que:

“Será vão o esforço de remediar a situação decadente da sociedade civil, se a família, princípio e base de toda a sociedade humana, não se ajustar diligentemente à lei do Evangelho. E nós afirmamos que, para desempenho cabal deste árduo dever, é, sobretudo conveniente o costume do Rosário em família”.

Maior valor ao Rosário não poderia ser dado do que este, do Papa João XXIII, que afirmou, na Carta Apostólica Il Religioso Convegno, de 29 de setembro de 1961, que o Rosário, como exercício de devoção cristã, entre os fiéis de rito latino, “ocupa o primeiro lugar depois da Santa Missa e do Breviário, para os eclesiásticos, e da participação nos Sacramentos, para os leigos”.

Já o Papa Paulo VI se refere ao Rosário com doçura, ao prescrever aos fiéis eclesiásticos e leigos, na Encíclica Mense Maio, de 19 de abril de 1965, para que não deixem “de inculcar, com a maior insistência, a reza do Santo Rosário, oração tão agradável à Virgem Maria e tão recomendada pelos Sumos Pontífices. Por meio dela, podem os fiéis cumprir, da maneira mais suave e eficaz, a ordem do Divino Mestre: ‘Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto’ (Mt 7,7)”.

Pouco mais tarde, a 2 de fevereiro de 1974, o Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica Marialis Cultus, ao “recomendar vivamente a recitação do santo Rosário em família” escreve:

“Oração evangélica, centrada sobre o mistério da Encarnação redentora, o Rosário é, por isso mesmo, uma prece de orientação profundamente cristológica. Na verdade, o seu elemento mais característico, a repetição litânica do ‘Alegra-te, Maria’, torna-se também ele, louvor incessante, a Cristo, objetivo último do anúncio do Anjo e da saudação da mãe do Batista: ‘bendito o fruto do teu ventre’ (Lc 1,42)”

Por fim, o Papa João Paulo II, que ao publicar a Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, proclama o Ano do Rosário, de outubro de 2002 a outubro de 2003, condena as objeções feitas ao Rosário, afirmando que “esta oração não só não se opõe à Liturgia, mas serve-lhe de apoio, visto que introduz nela e dá-lhe continuidade, permitindo vivê-la com plena participação interior e recolhendo seus frutos na vida quotidiana”(RVM 4).

Da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae ao episcopado, ao clero e aos fiéis sobre o rosário,  do sumo pontífice João Paulo II:

“O Rosário da Virgem Maria (Rosarium Virginis Mariae), que ao sopro do Espírito de Deus se foi formando gradualmente no segundo Milênio, é oração amada por numerosos Santos e estimulada pelo Magistério. Na sua simplicidade e profundidade, permanece, mesmo no terceiro Milênio recém iniciado, uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade. Ela enquadra-se perfeitamente no caminho espiritual de um cristianismo que, passados dois mil anos, nada perdeu do seu frescor original, e sente-se impulsionado pelo Espírito de Deus a « fazer-se ao largo » (duc in altum!) para reafirmar, melhor « gritar » Cristo ao mundo como Senhor e Salvador, como « caminho, verdade e vida » (Jo 14, 6), como « o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização ».
“O Rosário, de fato, ainda que caracterizado pela sua fisionomia mariana, no seu âmago é oração cristológica. Na sobriedade dos seus elementos, concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio. Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnação redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristão freqüenta a escola de Maria, para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor. Mediante o Rosário, o crente alcança a graça em abundância, como se a recebesse das mesmas mãos da Mãe do Redentor.”

No mesmo documento, João Paulo II exorta as famílias a rezarem o Rosário, dizendo que “o relançamento do Rosário nas famílias cristãs, no âmbito de uma pastoral mais ampla da família, propõe-se como ajuda eficaz para conter os efeitos devastantes desta crise da nossa época” (RVM 6).

Em seu discurso em Pompéia sobre o Santo Rosário, o Papa João Paulo II afirma:

“O Rosário, “compêndio do Evangelho” enquanto nos faz retornar continuamente às principais cenas da vida de Cristo, levando-nos quase a “respirar” o seu mistério; “caminho privilegiado de contemplação”, é também uma particular oração de súplica pela paz.”
Esta devoção tem o privilégio de ter sido recomendada por Nossa Senhora em Lourdes, na França, e em Fátima, Portugal, o que depõe em favor de sua validade em todos os tempos.


Como rezar o terço ( link)

Fonte: Livro “Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos: títulos, orações e devoções” – Editora Petrus, 2010.